Sunday, June 3, 2007

A "Dance Music" em Portugal - Parte 3




Em 96, o X-Club, ajudado por jovens promessas e alguns dos mais experientes DJ portugueses (Mário Roque depois baptizado X-Man e Luís XL Garcia) explodiu com grandes produções de tecno. Na Figueira da Foz, e com a presença do mais popular DJ internacional, Carl Cox, estiveram nesse ano presentes 14 mil pessoas. O sucesso crescente criou ambições desmesuradas e no Verão do ano seguinte foi organizada no Algarve um festival, "Neptunus", onde participaram quatro dezenas de artistas, muitos deles DJ de top internacional. A falta de experiência descambou em desastre. Inéditas situações de violência, desorganização e falta de condições logísticas resultaram num pesadelo, que desacreditou a produtora. Sucedeu-se depois a experiência da editora X-Club, com a chancela da multinacional MCA (também a Kaos entretanto se tinha aliado à Vidisco num acordo de distribuição de CD mais generalistas).Surgiram as compilações e qualquer dos DJ de renome portugueses tem pelo menos uma. A proliferação de compilações, de que resultaram alguns grandes sucessos de vendas, veio revelar-se um presente envenenado. Para não perderem este comboio, as pequenas editoras de música de dança passaram a lançar os seus temas em edições generalistas sem antes passarem pela edição em vinil. Como ainda não tinha sido criado um circuito próprio de dança, desvalorizou-se a importância do máxi enquanto ferramenta do DJ a favor das edições em CD de vários artistas. O resultado é que apesar dos muitos produtores que viram os seus temas lançados, não deram continuidade ao seu trabalho e nunca chegaram a ter qualquer reconhecimento. Sem a protecção de um movimento solidificado, deu-se um passo no escuro. Não só ficou por conquistar um potencial público nacional, como se abriu mão do mercado internacional.




Luís Leite, Mário Roque, Tó Ricciardi e Rui Vargas são nomes igualmente fundamentais e que ajudaram à eclosão da música de dança, fosse em discotecas de Lisboa (Alcântara, Kremlin, Frágil) fosse em clubes da linha do Estoril. Estes DJ tinham um substrato especial, fizeram a transição de géneros como o funk ou a pop electrónica para a música de dança electrónica com a uma vertente abstracta. Os DJ pioneiros foram também aqueles que mais facilmente integraram novos paradigmas musicais, uma vez que fizeram sempre do seu trabalho uma relação entre o reconhecimento do público e o perfume da novidade. O DJ "artista", com um estilo definido, em Portugal foi uma experiência funesta.




Zé Mig.L, um produtor que se estreou exactamente em editoras do Benelux (Minimalistix, DJax Up Beats) foi um dos poucos a romper fronteiras, apesar de o ter feito no circuito restrito da tecno minimal. Diversos artistas da Kaos seguiram o veio da Tribal/Twisted, mas já sem o impacto dos USL, que só o ano passado regressaram com um original, "Are You Looking For Me", que de qualquer maneira reanimou o interesse dos media anglo-saxónicos.

A lição dos USL não ficou na memória dos artistas portugueses e os próprios USL parecem tê-la aproveitado parcimoniosamente. A música na maioria das festas tornou-se brutal, perdendo-se muito desse lado risonho e descontraído que assistiu ao nascimento do movimento. Com o fim das grandes festas, criaram-se acontecimentos mais pequenos, em clubes e locais à beira da praia. A Kaos, que deu depois origem à produtora de espectáculos Friends, é um exemplo disso, uma vez que depois de várias experiências acabou por se fixar no Rock's, em Gaia. Em ambientes mais urbanos, diversificou-se também a apetência por novas correntes estéticas (que em termos de edições só foram exploradas pela Khami Khazz, uma etiqueta da NorteSul; pela Lupeca, de Pedro Passos; ou pela Symbiose, onde se destaca Alex FX). À eclosão dessas tendências (jungle, big beat, trip-hop, house de fusão, etc), acrescente-se ainda o progressivo sucesso do "Goa-trance", com um estilo de música menos agressivo, cujo psicadelismo resulta em algum revisionismo "hippie". O "Boom Festival" foi nos últimos dois anos a celebração máxima deste culto musical.Outra novidade é a integração dos ritmos ou modos de produção da música de dança em projectos enraizados na pop (Três Tristes Tigres), no acid-jazz/hip-hop (Cool Hipnoise) ou até na música tradicional (Megafone, de João Aguardela). Mais populistas, os fenómenos de boys-band e girls-band têm vindo a criar um público muito jovem que no entanto se interessa mais pelo formato tradicional da canção. Os Lunáticos foram nesse aspecto pioneiros. Nesse grupo, pontificava Alex Santos, um dos pioneiros da Kaos, editora que o ano passado fez lançar ainda o álbum de house e jungle de outro jovem, Paul Jay's.
A música de dança tem uma apetência universalista que nem mesmo o jazz (enraizado na música negra norte-americana) ou a pop (oriunda das culturas juvenis anglo-saxónicas) conseguiram generalizar. O techno, o house, o jungle ou o big-beat são formas musicais alheias à nacionalidade e, tal como em outros países sem expressão fora das suas fronteiras, esperava-se que a música de dança portuguesa se disseminasse, mas isso nem veio a acontecer em Espanha, com a excepção de edições pontuais. O esforço de internacionalização - que implica, mais do que sucessos ocasionais, a criação de um circuito com promotores, editoras e distribuidoras - é ainda a prova de força por cumprir de um movimento que atravessa um impasse de crescimento. Alguns dos melhores DJ e produtores portugueses criaram uma credibilidade e profissionalismo que no entanto ainda não criou uma diferença marcante. É essa diferença que definirá o futuro internacional ou meramente localizado da música de dança. Entretanto, a costela africana do mundo lusófono continua por ser aproveitada. by: fonoteca




Mas aqui chegamos a um pergunta: o que será que o futro reserva para a dance musica portuguesa?

No comments: