Friday, October 19, 2007

Psy Trance - Historia Revista


A Índia sempre foi um país de múltiplas facetas. Nesta terra singular situa-se Goa, na costa oeste, a aproximadamente 600 km ao sul de Bombay. Goa é um Estado e não uma ilha, como muitos pensam, e foi uma colônia portuguesa até 1962. Devido a isso, Goa tem até hoje uma forte influência cristã e difere das outras áreas da Índia em relação à liberdade, tolerância religiosa e diversidade cultural. Por causa do seu clima - média anual entre 20C e 34C -, suas praias quase desertas e sua cultura desprendida em relação ao dinheiro, em contraste com nossa civilização ocidental, Goa tornou-se um ponto de encontro internacional de "new agers", místicos, anarquistas, filósofos, traficantes de drogas e pessoas interessadas em espiritualismo. Os moradores locais são amigáveis e receptivos aos visitantes. Assim, Goa tem sido um verdadeiro paraíso para jet-set hippies e viajantes mochileiros, todos conectados através do desejo de quererem ter uma posição fora do sistema ocidental, além de anciarem poder fugir do inverno gelado da Europa e EUA. Todos procuram em Goa o lado intenso e bonito da vida. E é claro que a música não poderia faltar nesse cenário.
No início, as festas nas praias eram tomadas pelo rock psicodélico e pelo reggae. Estas festas se tornavam cada vez mais populares. Decorações feitas de cores fluorecentes e a mitologia indiana tornaram-se parte da vida de Goa. Entre 1987 e 1988 um DJ francês chamado Laurent teve a idéia de tocar música eletrônica nessas festas. No início ele teve muita oposição, mas com o tempo a faísca pegou fogo e a música eletrônica passou a ser parte da cena de Goa.



Goa Gil foi da Cailfórnia até Goa e eventualmente se tornou o maior protagonista da música eletrônica em Goa, mantendo esse título até hoje. Foi ele que criou a conexão entre batidas eletrônicas, espiritualidade, yoga e música com o seu conceito de "redefinir o antigo ritual tribal para o século XXI", guiando o público através do trance a um estado de consciência mais elevado.
Naquela época os CDs ainda não eram populares e o calor e a poeira de Goa não eram propícios para o vinil. A música desenvolveu-se para uma colorida mistura de Post-Wave, Electronic Body Music (EBM), New Beat, Front 242, Nitzer Ebb, variando entre música eletrônica belga, inglesa e americana. O início da cena rave em inglaterra também chegou em força a Goa e foi esta mistura de culturas que deu origem aquilo que chamamos Goa Trance ou Trance 604.
O mês de abril trazia um calor insuportável, e as chuvas duravam até agosto, então as pessoas aproveitavam para voltar aos seus países de origem, levando e espalhando com eles a cultura de Goa, e também voltando para Goa com novas influências. Nessa altura, Goa havia se transformado num dos centros de música eletrônica mais inovativos do planeta, graças a ajuda do walkman e posteriormente do DAT (Digital Audio Tape).



A reputação de Goa como um paraíso aumentava e trazia cada vez mais viajantes do mundo inteiro. Na Alemanha, as pessoas que se conheceram nas festas da Índia passaram a se encontrar regularmente a 30 km ao sul de Hamburgo num local desconhecido chamado Waldheim, entre 1989 e 1990.
Nos pubs as pessoas começaram a planejar uma mega rave, então em 1991 foi feita a primeira Voov-Experience, com mais de 1500 pessoas.
Utilizando as estruturas de estúdio de gravação do seu selo Butterfly, Youth batizou o seu novo selo de Dragonfly. Este selo tornou-se o primeiro da cena psychedelic em Londres. Simon Posford, engenheiro de som do Butterfly, criou o projeto eletrônico Hallucinogen. O primeiro lançamento do Dragonfly saiu em maio de 1993, uma coletânea com bandas como Genetic, Gumbo, TIP e Black Sun. A segunda coletânea, Project II Trance, foi lançada em agosto do mesmo ano e incluía faixas do grupo francês Total Eclipse e do Mandra Gora, produzido por Johann e Youth. No ano seguinte mais singles foram lançados e vieram as primeiras músicas do Hallucinogen. Man With No Name, Prana, Ayahuasca, Slinky Wizard e Doof foram outros grupos que surgiram em seguida.
Em 1994 a cena psy-trance da Inglaterra havia se desenvolvido rapidamente, e festas grandes como Return to the Source aconteciam, enquanto inúmeros selos de psy-trance começavam a surgir.

Enquanto isso, a fama de Goa se espalhava cada vez mais pelo mundo, resultando num fluxo muito grande de turistas. Em 1998 havia quatro vezes mais o número de turistas do que em 1994. Assim a longa relação cultivada entre os ravers e moradores foi destruída. Tudo passou a custar mais caro, pois os indianos perceberam o imenso potencial financeiro que aqueles visitantes de países abastados estavam trazendo para Goa. O espírito original de Goa desapareceu em pouco tempo.



Ao mesmo tempo, novos conceitos e idéias surgiram, combinando elementos de trance, techno e house. Na Alemanha já existia uma cena de músicos e produtores como Digital Sun / Tarsis, Ouija, Earth, Ololiuqui, Shiva Chandra e muitos outros. Com o festival Voov-Experience como o seu ponto de encontro anual, esta nova face da cena trance rapidamente se alastrou pelo resto da Europa. Muitos suecos se contagiaram com este achado musical e desenvolveram a sua própria cena progressiva. O primeiro e mais conhecido deles foi o Atmos, projeto eletrônico fundado por Tomasz Balicki. Através de um single lançado pela Eve Records (Body Trance), ele fez contato com Cass Autbush, que junto com James Monro estava reestruturando o selo Flying Rhino. A música Klein Aber Doctor do Atmos foi um dos maiores sucessos lançados pelo Flying Rhino até aquela data. O novo tipo de som progressivo deu à cena um novo frescor. Até selos mais "conservadores" como o Dragonfly renderam-se ao trance progressivo. Depois do lançamento de um álbum através do selo Novatekk, a banda sueca Son Kite conseguiu aumentar a plataforma para lançamentos de mais bandas suecas.



Assim surgiu o psy trance que conhecemos hoje, uma mistura de inumeras culturas e saberes.

em:
http://www.newagepunk.com/tranzine/13/historia_psy_trance.html

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